segunda-feira, 9 de março de 2009

Nossa História

Duas Lagartas:

Eu e o Rapha começamos a namorar em 97 e sempre quisemos ter filhos, ele perdeu o pai aos 9 anos e minha mãe sofreu um acidente cirúrgico – um erro da anestesista – quando eu tinha 12 anos. Ele foi criado pela mãe e eu pelo meu pai, talvez por isso tivéssemos essa vontade tão forte e uma certeza de que seríamos pais, e dos bons! Namoramos por 3 anos e pouco e depois brigamos. Curiosamente, depois que nos separamos passei a ter cólicas terríveis, algumas vezes cheguei a ir para o hospital, pois elas eram muito intensas. Minha ginecologista – a mesma desde os 12 anos - me pediu uma USG e foram detectados cistos ovarianos com consistência achocolatada (como eles dizem). Ela disse que existia a possibilidade de ser endometriose, mas que a certeza do diagnóstico só poderia ser dada depois de uma cirurgia. Optei por tentar um controle hormonal e ver como as coisas caminhariam. Tudo só piorava: as dores foram aumentando e os exames de USG só detectavam que os cistos cresciam... Eu tenho pânico de hospital, e principalmente de anestesia – obviamente – e pensei que se eu ignorasse o problema ele deixaria de existir. Continuei minha vida e me acostumei às dores... Quando menstruava tomava uns Buscopans e conseguia trabalhar e viver quase “normalmente”. Nesse meio-tempo meu pai foi diagnosticado com câncer de pulmão e voltei minhas atenções para ele, não me importava para minhas cólicas, dores ou problemas. Quando meu pai estava na fase terminal eu pensava o quanto queria que o Rapha estivesse ao meu lado, mas também não me achava no direito de pedir isso a ele, uma vez que não estávamos mais juntos... Depois que meu pai morreu, em novembro de 2002, agendei minha cirurgia: tinha decidido resolver tudo que havia ficado “em aberto”. Fui operada no início de dezembro de 2002 e minha endometriose (afinal era isso mesmo), foi diagnosticada como nível IV que é a pior de todas. Além dos cistos ovarianos haviam vários focos espalhados pela cavidade abdominal. Depois da cirurgia eu ainda tive de fazer um tratamento hormonal que incluía induzir uma menopausa precoce por 6 meses – duas injeções de Zoladex L.A. – e depois continuar evitando a menstruação tomando pílula anticoncepcional ininterruptamente por mais um ano, no mínimo.


A terceira lagarta:


Perto do Natal de 2002 eu e o Rapha voltamos a nos falar e a nos ver, ele foi comigo ao SUS buscar as injeções, passamos o ano-novo juntos e voltamos a namorar. O recomeço foi difícil, a menopausa induzida era horrível e eu sofria muito, sem contar que estava em depressão por ter perdido meu pai e me sentindo “sozinha no mundo”. O Rapha me salvou, me apoiando e me mostrando que estava do meu lado, que a gente ainda tinha muita coisa para fazer juntos, que tínhamos uma família para construir e uma vida inteira pela frente.
Aos poucos fui retomando minha vida, voltei a estudar, repensei minhas escolhas profissionais e pessoais e tudo foi se ajeitando... Decidimos, então, que era hora de tentarmos ter um bebê.
A endometriose é a maior causa de infertilidade feminina e eu morria de medo de não conseguir engravidar, minha médica me dizia que, no meu caso, a indicação era a de fazer uma fertilização in vitro, pois minhas chances de ser mãe naturalmente eram mínimas... Enquanto eu fazia uns exames eu teria que ter os ciclos menstruais completos para medir hormônios e outras coisas, mas não por muito tempo, 3 à 5 meses, dependendo de como estivesse o meu CA125 (um exame que ajuda a indicar a possibilidade de endometriose, que ela nunca havia me pedido antes, hein? ). Nesse meio tempo, eu poderia tentar engravidar. Fui fazendo meus exames e ao mesmo tempo, na maior ansiedade e medo de não conseguir engravidar e ter que fazer a FIV. Venho de uma família grande de mulheres parideiras, minha avó teve 9 filhos (8 mulheres e 1 homem) 8 de parto normal, quase todas as minhas tias têm filhos, pelo menos 3, vários partos normais, algumas cesáreas ... enfim, sempre soube que eu seria mãe e de repente, achei que não conseguiria ... estava em pânico! O Rapha, ao meu lado, sempre me colocando pra cima e me fazendo acreditar nesse sonho junto, ele dizia: “é claro que a gente vai ter todos os filhos que a gente imagina!”, e continuamos tentando...
Paralelamente ao tratamento tradicional com essa ginecologista eu comecei a fazer acupuntura com um médico maravilhoso chamado Dr. Komino, ele sempre me dizia que eu não estava lá para tratar da doença, que isso era com os nossos médicos, lá eu tinha que tratar dos fluxos de energia do meu corpo, a coisa toda dos meridianos. Quando estava tentando engravidar voltei lá porque ele sempre me disse que a endometriose não me impediria de ser mãe e que quando eu quisesse engravidar era só voltar lá, afinal, “tinha agulha só pra isso”! Fui apenas uma vez, um pouco antes de saber que meu CA125 estava altíssimo e eu não poderia mais tentar. Parei de tomar a pílula em março de 2005 e em final de maio minha médica me diz: “você tem que bloquear seus ovários imediatamente, para ser mãe só fazendo uma FIV”. E eu pensando: “ok, trigêmeos ...”


Casulo:


Eu deveria esperar o primeiro dia da próxima menstruação para voltar a tomar a pílula e guardar meus óvulos para a FIV. Até que a menstruação não veio: totalmente psicológico, pensei. Mas ela não veio mesmo, e a cada dia que ela não vinha eu pensava: to grávida! Será? Depois de uma semana atrasada fiz o teste mais vagabundo da farmácia: positivo! “Rapha, to grávida!” “Mentira?” “...deu positivo...” “Vamos comprar o teste mais caro que tem!” De tarde fiz outro: positivo! Curiosamente era 28 de julho, data do nosso primeiro aniversário de namoro, 8 anos antes. Liguei pra médica: Dra, tô grávida! Ela: “impossível, como é que você sabe?“ Fiz dois testes de farmácia e nos dois deu positivo! Ela: “então você ganhou a mega-sena duas vezes, pois suas chances eram estas...”
Fui fazendo meu pré-natal com ela, nos três primeiros meses tinha que usar umas cápsulas de progesterona, por conta de um pequeno sangramento que eu tive, fui indo... Sentia-me muito bem, mas toda vez que eu ia à médica ela me deixava meio pra baixo. Primeiro era aquela paranóia de segurar o embrião, depois ela achou que eu tinha engordado demais, que poderia ser diabete gestacional - mesmo com todos os exames indicando que eu estava bem.
Desde o começo da gravidez comentava sobre o parto normal, sobre a possibilidade de parir de cócoras, sem anestesia... E ela sempre me dizendo: “você deveria dar-se por satisfeita por continuar grávida e ainda quer inventar moda?”. “A gente estuda anos para aprender a fazer um parto eficiente e você fica querendo voltar no tempo?”. “O ideal no seu caso era a gente fazer uma cesárea para aproveitar e ver se a endometriose está severa de novo...” Eu disse à ela que gostaria de "não misturar doença com saúde", que se eu tivesse que fazer a videolaparoscopia novamente, eu faria, mas gostaria de guardar o momento do parto, como um momento de alegria, de saúde, de vida... Até que comecei a ter umas dores horríveis no cóccix, a médica me disse que era normal, por causa do afrouxamento nas articulações e não havia nada que eu pudesse fazer. Procurei novamente o Dr. Komino, e ele me disse: “em grávida eu não gosto de colocar muitas agulhas, mas você deveria procurar a Violaine que é osteopata e obstetriz”.


Colorindo as asas:


Conheci a Violaine e minha vida mudou. Na primeira consulta ficamos mais de duas horas conversando e ela soube de toda a minha vida, coisa que a outra médica nunca quis saber. Quando falamos sobre o parto ela foi categórica: “se você continuar com essa médica ela vai roubar o seu parto... eu não poderei te acompanhar e provavelmente nem o seu marido. Por que você não vai conhecer o Dr. Jorge Kuhn? Acho que vocês vão gostar dele... conversem bastante e pensem com calma”.
Fomos eu, o Rapha e o barrigão de quase 7 meses. Quando saímos do consultório do Dr. Jorge estávamos tão felizes e confiantes que já começamos a fazer os planos de como seria nosso parto, se tentaríamos em casa ou iríamos para o hospital... a outra médica simplesmente foi abandonada, afinal ela não entendia nada sobre parto, coitada. Nosso pré-natal continuou seguindo às mil maravilhas, decidimos que tentaríamos o parto natural hospitalar - o domiciliar ficou para o próximo! A data prevista para o meu parto era entre 1 e 2 de março...


1º. de março (era quarta-feira de cinzas) lá pelas 4h30 da madrugada levantei para ir ao banheiro e tinha perdido o tampão, de manhã liguei para a Violaine, ela: “está sentindo mais alguma coisa?” Eu: nada! De noite fui nadar pensando: a partir de hoje o Tom já está fazendo hora extra, vou nadar bem forte para ver se acontece alguma coisa. Dito e feito: quando saí da piscina senti um monte de água descendo: será que foi a bolsa? Como nada mais aconteceu fui dormir, no dia seguinte ás 8h liguei para a Violaine contando o que aconteceu. Ela perguntou: “saiu água e parou, ou ficou saindo de tempo em tempo?” Saiu um tanto e parou, eu disse. - “está sentindo as contrações?”, ela perguntou. "Como é que eu vou saber?" E ela: "você vai saber!" Eu disse que não. Combinamos que ela vinha me ver de tarde. 11h da manhã a bolsa rompeu de verdade, águas saíam de tanto em tanto. Falei com o Dr. Jorge, que estava fazendo um outro parto e ele me pediu para que dissesse à Violaine que telefonasse para ele assim que ela me visse. As águas continuavam a descer de tempos em tempos... 16h chega a Violaine, faz o toque e me diz que eu só tenho 0,5cm de dilatação, que vai demorar... Eu apenas com uma “coliquinha” pensando: se for assim vai ser fácil. Foi ela colocar o pé na porta, às 17h, tive a primeira contração, doeu muito, falei com o Rapha que conseguiu pegá-la ainda na minha porta, ela nos disse para marcarmos o tempo entre as contrações e que iríamos nos falando... Como era meu primeiro parto, provavelmente demoraria muitas horas e o melhor era esperar em casa. Neste momento soubemos que o Dr. Jorge estava indo para Ilha Bela fazer um outro parto e que deixaria a Dra. Andrea Campos em stand by para o caso do meu parto evoluir rapidamente. Comecei a ter contrações irregulares, a cada 12, 13, 11 minutos. Logo depois de 7 em 7 minutos, a esta altura eu estava subindo pelas paredes de tanta dor. O Rapha marcando o tempo entre as contrações e eu lá, surtando, dizia: "quero uma anestesia agora! Rapha liga pra todo mundo e manda preparar a agulha que eu vou tomar uma anestesia agora! Parto natural é o ca*&¨%$¨%***.!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!" Ele ligou mesmo, mas a gente sabia que não era assim... mesmo que você queira a anestesia ela não pode ser dada a qualquer momento porque o trabalho de parto pode estacionar, ter seu ritmo natural totalmente alterado e acabar numa cesárea desnecessária. E eu, de olhos fechados o tempo todo, passando mal, não encontrava posição, tomei ducha, sentei na privada, andei, tomei outra ducha, sentei de novo e finalmente deitei do lado esquerdo, na minha cama...


Rompendo o casulo:


Lá pelas 20h chega Violaine, eu já tinha virado um bicho e estava em outro planeta, numa viagem alucinante rumo ao desconhecido... A primeira coisa que eu disse foi: “não vou agüentar, preciso de uma anestesia”, e ela: “calma Carol, vai dar tudo certo”. “Eu não tô agüentando...” Aí ela me ensinou a deixar a contração vir, me explicou que era como uma onda que subia até o final do útero e depois descia e que eu tinha que deixar ela vir e não travar a barriga como eu estava fazendo. Eu fui acalmando, leva fez o toque – entre 3 e 4cm... E ela sabia que eu queria ir pro hospital e me disse: “se você quiser ir, vamos agora...” E eu queria, mas não conseguia me levantar... Perguntou pro Rapha sobre os médicos e tal e queria saber se a gente não ia levar o neonatologista, dissemos que não e ela sugeriu que conversássemos com o Cacá, os procedimentos do hospital são realmentes punks para os bebês e não fazia sentido ter um parto super humanizado e depois deixar que meu filho passe por procedimento desumanos... Rapha perguntava pra mim, fiz que sim com a cabeça... ele ligou, conversaram e resolveram que o Cacá também ira ... Dr. Jorge já não estava e não conhecíamos ninguém que estava indo fazer o nosso parto e como a Violaine se formou na França seu diploma não vale nos hospitais daqui e eles não dão autonomia nenhuma para ela... Fomos para o hospital, eu com muita dor no banco de trás com a Violaine e o Rapha, a meio por hora, me disse depois: “parecia eu tava dirigindo um carro de pedra!”. Chegamos ao hospital e é aquela tortura: o Rapha na recepção e eu e a Violaine naquela triagem maldita tendo que deitar de barriga para cima para a enfermeira “ver se tem dilatação ...” a gente sabia que era TP mesmo! Nesse momento a outra enfermeira diz: ela já está no expulsivo, dilatação total... me enfiaram numa maca e me levaram pro centro-obstétrico. A Violaine e o Rapha teriam que colocar aquela roupinha e iriam por outro caminho...
Assim que cheguei ao centro obstétrico (22h15) veio o anestesista: boa noite, eu sou o seiláquem, anestesista, e vamos aplicar uma anestesia na senh... Eu: “o quê? Eu não vou tomar anestesia nenhuma... enquanto não chegar o meu médico, você não encosta a mão em mim...” ele: mas é o procedimento padrão. E eu pensava: se eu agüentei até agora e ele já vai nascer, pra quê que eu vou perder a melhor parte?! E a enfermeira gente-fina explicou que eu era paciente do Dr. Jorge Kuhn, do parto natural... o anestesista saiu se sentindo desprezado... Chegam Rapha e Violaine e na seqüência Dra. Andrea, Dr. Paulo (assistente) e Cacá. Eles me examinaram, estava tudo ótimo comigo e com o Tom! Pressão 12 por 8, batimentos regulares “uma atleta do parto” segundo o Cacá. Descolamos um banquinho de parto, um sonzinho, as luzes foram apagadas, só ficou uma indireta e tudo ficou calmo e tranqüilo.


O vôo da borboleta:


Eu já tinha me acalmado desde o momento em que a Violaine voltou, ter uma doula, que sabe o que está fazendo e sabe conduzir a situação, faz toda a diferença. Pude me concentrar no me corpo, no que eu estava sentindo e no nascimento do meu filho. A gente precisa ser amparada e não tratada como uma bomba, prestes a explodir. Será que os médicos e os hospitais não aprendem isso nunca??? Enfim, minha equipe sabia disso e mesmo sem nunca ter visto a cara de ninguém me senti completamente à vontade, Dra Andrea é muito doce e carinhosa e só me dizia que estava tudo bem, que eu estava ótima. Como a equipe chegou com notícia de dilatação total, fui direto para a banqueta de parto fazer força ... passado o primeiro momento de correria, Dra Andrea me perguntou se eu estava com vontade de fazer aquela força e eu disse que não, ela me pediu para fazer o toque e constatou que eu não estava com dilatação total coisa nenhuma, me disse que estava com uns 9cm e que o colo estava ligeiramente grosso, me disse que eu poderia fazer mais uma força na próxima contração que eu chegaria a 10cm e com o colo fino. Fiz a força e beleza, dilatação total! Neste momento, resolvi mudar de posição pois aquela banqueta estava acabando com as minhas costas, elas me sugeriram algumas, mas eu queria ficar deitada de lado, como estava na minha casa. Naquela maca do centro-obstétrico eu só cabia de lado mesmo, ela é minúscula e todo mundo sabe o tamanho da bunda de uma grávida, prestes a parir!
A natureza é mesmo sábia e depois dos 10cm atingidos parece que o processo todo dá uma parada para possamos recuperar as forças, posição confortável conquistada, dilatação total atingida e as contrações recomeçaram. Eu estava numa viagem alucinante, me sentindo parte das coisas de Deus, vivendo a experiência mais profunda da minha vida e completamente entregue àquele processo, deixando que o poder natural do Feminino agisse sobre mim, me sentindo meio cavalo daquela energia maior. Começo a sentir os puxos e a vontade de fazer força, comecei fazendo uma força a cada contração e percebo que quanto mais força eu faço, menos dor eu sinto! Fazendo força a cada contração fui sentindo meu filho descer, meu corpo e minha alma se abrindo e aquela vida pedindo passagem, chegando cada vez mais perto do mundo. Tomzinho, guerreiro que sempre foi, permaneceu muito bem durante todo o trabalho de parto, até mesmo quando ficava indo e voltando no canal de parto. Pois isso estava acontecendo... Quando eu fazia força o Tom descia, quando eu parava de fazer força ele voltava pelo canal de parto, me disseram que eu deveria fazer uma força maior do que eu estava fazendo, para que a cabeça dele saísse e não voltasse mais pelo canal de parto. Veio uma contração e eu fiz muita força, até sentir a cabeça do meu filho saindo totalmente, mais uma contração e o corpinho escorregou para fora. Pegaram o Tom e colocaram em cima de mim, o cordão umbilical era muito curto (por isso ia e vinha pelo canal de parto) e ele não chegava até o peito, parava no umbigo. Ele começou a chorar e respirar assim que saiu da barriga, o Rapha cortou seu cordão umbilical e finalmente tinha meu bebê nos meus braços. Jamais vou me esquecer do cheiro dele, daquela carinha de recém-nascido lindo, daquela cabeça de egípcio e seu choro forte, que foi silenciando conforme eu e o Rapha conversávamos com ele. Ficamos nos conhecendo um pouco, eu quase não acreditava que aquele corpinho tinha crescido dentro de mim! Olhando seus olhos abertos e atentos, seu rostinho lindo e sua pele de manteiga. O Cacá pegou ele para pesar e medir, seu APGAR foi 9/10 ele pesava 3705g e media 51,5 cm, nasceu às 23h54 do dia 2 de março de 2006, na maternidade São Luiz, em São Paulo.


Pousando:


Neste momento eu já tinha retornado da minha viagem à partolândia, já tinha aberto os olhos e visto a cara das pessoas, agradecí a todos pelo trabalho.


Minha placenta já tinha se descolado e mais uma contração veio para que ela fosse “parida”, tive uma rotura no períneo e Dra Andrea me deu uma anestesia local para fazer a sutura. Tomzinho não parava de sugar as mãos, Cacá deu um banho de balde nele, mas ele só acalmou mesmo quando veio para o peito, mamou, mamou e sossegou. Era mais de 1h da manhã quando levaram o Tom para aquela maldida observação, Rapha foi fazer a minha ficha de entrada na maternidade e eu fiquei aguardando um quarto, cheguei no quarto lá pela 1h30 e quando encontrei o Rapha pedi para ele não desgrudar do Tom um minuto sequer. Eu estava me sentindo ótima, completamente adrenalizada, morrendo de fome e louca para ter meu bebê nos braços novamente. Minha sogra e meus cunhados chegaram e ao abrirem a porta escutei o choro do Tom, no berçário da minha ala, mas ainda tínhamos que esperar dar ao menos duas de observação, para tê-lo no quarto conosco. Três e pouco da manhã, Tomzinho finalmente veio para o nosso quarto, para ficar junto da gente e dormir o sono dos justos, ao nosso lado, desde aquele dia até hoje, 3 anos depois, quando eu finalmente consegui terminar este relato de parto, planejando outro filho, outra gravidez e outro parto!


Hoje, sei que senti muita dor, mas não consigo me lembrar dela com uma memória negativa, minha memória de parto é muito linda, quando me senti mais próxima de Deus, e da natureza feminina. Senti um prazer indescritível em poder parir meu filho de forma natural e me permitir viver o processo todo, com as minhas próprias drogas. Prazer físico sim, prazer emocional e prazer espiritual! Sorte das mulheres que conseguem passar por esta experiência tão bela e transformadora e lembrar dela com tanta alegria e emoção quanto eu me lembro, sortudos são os bebês que tem a oportunidade de nascer por vias naturais e serem respeitados desde antes de seu nascimento.


Ao príncipe:


Quero agradecer ao Tom, por ter nos escolhido como pais, por ter me transformado no que sou hoje, por me mostrar tantas cores e tantas nuances. Por ser o agente da maior transformação que já viví, por me fazer reacreditar em Deus, nas pessoas e num mundo melhor. Por me dar força e coragem para lutar, crescer, aprender e desaprender todos os dias.
Ao Rapha por ser este marido maravilhoso, este amante delicioso e este amigo tão incrível, por estar ao meu lado, por acreditar sempre na gente e por me apoiar nas escolhas e caminhos que busco trilhar. Sem você nenhum de nós teria conseguido viver um parto tão especial, obrigada por me fazer mãe de um cara tão bacana, por construir comigo uma familinha tão feliz e por ter me escolhido para ser a sua mulher.



Como disse a rosa do Pequeno Príncipe: “É preciso que eu suporte duas ou três lagartas se quiser conhecer as borboletas”.



Com amor
da sua rosa.

11 comentários:

Dani Garbellini disse...

Linda sua história!

Parabéns pela família e obrigada por compartilhar conosco seu relato.

--
Dani Garbellini, da materna

Natalia Rea Monteiro disse...

liiindo carol!
e vc é uma pessoa tão especial,
quero tê-la sempre por perto.
Ná, da Lelê

Rosana Oshiro disse...

Lindissimo relato Carol!
Parabens pelo lindo parto e empoderamento!
E que venha mais um bebe nessa linda familia, de forma tão respeitosa!

Beijo
Rosana Oshiro (da materna)
Posso linkar-te no meu blog?
relatosdeparto.blogspot.com

Ana Lucia Lima disse...

Carol,
Adorei o relato! Apesar da distancia voces moram no nosso coracao!
Amo voce
Na

thais disse...

Que lindo!
Ah.... eu estou arrepiada!!!!

Que droga! Eu tinha jurado que não ia mais ler relato de parto porque me dá vontade de engravidar de novo.... cá estou eu, com saudades da barrigona.... hahahahahahaha

beijo

Maria Martha disse...

Por que as lágrimas rolam? Porque a emoção ao ler esse relato é muito forte. Carol, obrigada por compartilhar sua historia e ajudar a resgatar essa força feminina tão maravilhosa! Bj gde para toda familinha

Maíra Duarte disse...

Carol, adorei seu relato. Fiquei imaginando o Tomzinho lá vivendo tudo isso com vcs. Ele é tão lindo...que bom que meu filhote tem um amigo assim, que já veio cheio de histórias boinitas pra contar.Imagina eles daqui uns anos contando um para o outro as sagas de seus pais nos dias em que nasceram? Ai que lindo.
beijinhoo
maíra

Unknown disse...

Lindo, Carol.
Linda você e essa familinha especial.
Beijos grandes da
Paula
(Condini).

Anônimo disse...

Carol, este foi o texto masi bonito do meu domingo...um presente.
Minha gratidão por você me escolher para acompanhar os nascimentos da tua experiência.
Com o coração aquecido, registro que te amo e admiro.
Luiza

Paula disse...

Maria Carol...
Você é demais... que coisa mais linda...
Meus olhos se encheram de lágrima... "me sentindo parte das coisas de Deus" - muito, muito lindo e emocionante ler isso!
Você e vocês("familinha")são uma inspiração de vida.
Beijos,
Paula (IA)

Mazane disse...

Que relato mais lindo, é tão bom saber que existem famílias se construindo desse jeito. Num mundo em que bebês nascem todos os dias "por acaso" e sem planejamento algum. Belíssima família parabéns!!!!